Hernandes Dias Lopes é bacharel em
Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul em Campinas-SP e doutor em
Ministério pelo Reformed Theological Seminary em Jackson, Mississippi,
nos Estados Unidos. Foi pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de
Bragança Paulista no período de 1982 a 1984 e desde 1985 é o pastor
titular da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória-IPB. Hernandes é
conferencista e escritor de mais de 70 obras. É casado com Udemilta
Pimentel Lopes e pai de Thiago e Mariana.
As sete igrejas da Ásia Menor, conhecidas como as igrejas do Apocalipse,
estão mortas. Restam apenas ruínas de um passado glorioso que se foi. As
glórias daquele tempo distante estão cobertas de poeira e sepultadas debaixo de
pesadas pedras. Hoje, nessa mesma região tem menos de 1% de cristãos. Diante
disso, uma pergunta lateja em nossa mente: o que faz uma igreja morrer? Quais
são os sintomas da morte que ameaçam as igrejas ainda hoje?
Em primeiro lugar, a morte de uma igreja acontece quando ela se aparta
da verdade. Algumas igrejas da Ásia Menor foram ameaçadas pelos falsos mestres
e suas heresias. Foi o caso da igreja de Pérgamo e Tiatira que deram guarida à
perniciosa doutrina de Balaão e se corromperam tanto na teologia como na ética.
Uma igreja não tem antídoto para resistir a apostasia quando abandona sua
fidelidade às Escrituras nem a inevitabilidade da morte quando se aparta dos
preceitos de Deus. Temos visto esses sinais de morte em muitas igrejas na
Europa, América do Norte e também no Brasil. Algumas denominações históricas
capitularam-se tanto ao liberalismo como ao misticismo e abandonaram a sã
doutrina. O resultado inevitável foi o esvaziamento dessas igrejas por um
lado ou o seu crescimento numérico por outro, mas um crescimento sem
compromisso com a verdade e com a santidade. Não podemos confundir numerolatria
com crescimento saudável. Nem sempre uma multidão sinaliza o crescimento
saudável da igreja. Uma igreja pode ser grande e mesmo assim estar gravemente
enferma. Sempre que uma igreja troca o evangelho da graça por outro evangelho,
entra por um caminho desastroso.
Em segundo lugar, a morte de uma igreja acontece quando ela se mistura
com o mundo. A igreja de Pérgamo estava dividida entre sua fidelidade a Cristo
e seu apego ao mundo. A igreja de Tiatira estava tolerando a imoralidade sexual
entre seus membros. Na igreja de Sardes não havia heresia nem perseguição, mas
a maioria dos crentes estava com suas vestiduras contaminadas pelo pecado. Uma
igreja que flerta com o mundo para amá-lo e conformar-se com ele não permanece.
Seu candeeiro é apagado e removido. Alguém disse: "Fui procurar a igreja e
a encontrei no mundo; fui procurar o mundo e o encontrei na igreja". A
Palavra de Deus é clara: ser amigo do mundo é constituir-se inimigo de Deus.
Quem ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Há pouca ou quase nenhuma
diferença hoje entre o estilo de vida daqueles que estão na igreja e daqueles
que estão comprometidos com os esquemas do mundo. O índice de divórcio entre os
cristãos é tão alto como daqueles que não professam a fé cristã. O número de
jovens cristãos que vão para o casamento com uma vida sexual ativa é quase o
mesmo daqueles que não frequentam uma igreja evangélica. A bancada evangélica
no Congresso Nacional é conhecida como a mais corrupta da política brasileira.
A teologia capenga produz uma vida frouxa. Precisamos voltar aos princípios da
Reforma e clamar por um reavivamento!
Em terceiro lugar, a morte de uma igreja acontece quando ela não
discerne sua decadência espiritual. A igreja de Sardes olhava-se no espelho e
dava nota máxima para si mesma, dizendo ser uma igreja viva, enquanto aos olhos
de Cristo já estava morta. A igreja de Laodicéia considerava-se rica e
abastada, quando na verdade era pobre e miserável. O pior doente é aquele que
não tem consciência de sua enfermidade. Uma igreja nunca está tão à beira da
morte como quando se vangloria diante de Deus pelas suas pretensas virtudes. O
cristão não deve ser um fariseu. O fariseu aplaudia a si mesmo por causa de
suas virtudes, mas olhava para os publicanos e os enchia de acusações
descaridosas. O cristão verdadeiro não é aquele que faz um solo do hino
"Quão grande és tu" diante do espelho, mas aquele chora diante de
Deus por causa de seus pecados.
Em quarto lugar, a morte de uma igreja acontece quando ela não associa a
doutrina com a vida. A igreja de Éfeso foi elogiada por Jesus pelo seu zelo
doutrinário, mas foi repreendida por ter abandonado seu primeiro amor. Tinha
doutrina, mas não vida; ortodoxia, mas não ortopraxia; teologia boa, mas não
vida piedosa. Jesus ordenou a igreja a lembrar-se de onde tinha caído, a
arrepender-se e a voltar à prática das primeiras obras. Se a doutrina é a base
da vida, a vida precisa ser a expressão da doutrina. As duas coisas não podem
viver separadas. Doutrina sem vida produz orgulho e aridez espiritual; vida sem
doutrina desemboca em misticismo pagão. Uma igreja viva tem doutrina e vida,
ortodoxia e piedade, credo e conduta!
Em quinto lugar, a morte de uma igreja acontece quando falta-lhe
perseverança no caminho da santidade. As igrejas de Esmirna e Filadélfia foram
elogiadas pelo Senhor e não receberam nenhuma censura. Mas, num dado momento,
nas dobras do futuro, essas igrejas também se afastaram da verdade e perderam
sua relevância. Não basta começar bem, é preciso terminar bem. Falhamos, muitas
vezes, em passar o bastão da verdade para a próxima geração. Um recente estudo
revela que a terceira geração de uma igreja já não tem mais o mesmo fervor da
primeira geração. É preciso não apenas começar a carreira, mas terminar a
carreira e guardar a fé! É tempo de pensarmos: como será nossa igreja nas
próximas gerações? Que tipo de igreja deixaremos para nossos filhos e netos?
Uma igreja viva ou igreja morta?
Fonte: http://editorafiel.com.br/artigos