John MacArhtur, autor de mais de 150 livros e
conferencista internacional, é pastor da Grace Comunity Church, em Sum Valley,
Califórnia, desde 1969; é presidente do Master's College and Seminary e do
ministério "Grace to You"; John e sua esposa Patrícia têm quatro
filhos e quatorze netos.
"Tudo o que você precisa é de amor",
assim cantavam os Beatles. Se eles tivessem cantado sobre o amor de
Deus, a frase revelaria uma certa verdade. Mas aquilo que a cultura popular diz
ser amor, não se trata, na verdade, de um amor autêntico, é antes uma
verdadeira fraude. Longe de ser "tudo o que precisa", é algo que deve
evitar a todo o custo.
O apóstolo Paulo fala-nos sobre esse tema em
Efésios 5:1-3. Ele escreveu: "Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos
amados. E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo
por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave. Mas a prostituição, e
toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a
santos".
A simples ordem do verso 2 ("E andai em amor,
como também Cristo vos amou") resume toda a obrigação moral do cristão. No
fundo, o amor de Deus é o único princípio que define completamente o dever do
cristão, e este tipo de amor é exatamente "tudo o que você precisa".
Romanos 13:8 diz, "porque quem ama aos outros cumpriu a lei". Os
mandamentos resumem-se a estas palavras: "Amarás o próximo como a ti
mesmo, já que o amor é o cumprimento da lei." Gálatas 5:14 ecoa a mesma
verdade: "Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: "Amarás
ao teu próximo como a ti mesmo." Da mesma maneira Jesus ensinou que toda a
lei e profetas dependem de dois princípios básicos sobre o amor – o primeiro e
o segundo mandamentos (Mt. 22:38-40). Em outras palavras: "e, sobre tudo
isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição." (Cl 3:14).
Quando o apóstolo Paulo nos diz para caminhar no
amor, o contexto revela-se em aspectos positivos, pois ele fala-nos sobre
sermos bons uns para os outros, misericordiosos e que nos perdoemos uns aos
outros (Ef. 4:32). O modelo de tal amor, mais centrado nos outros que em si
próprio, é Cristo, que se entregou para nos salvar dos nossos pecados.
"Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus
amigos." (João 15:13). E "amados, se Deus assim nos amou, também nós
devemos amar uns aos outros." (1 João 4:11).
Em outras palavras, o amor verdadeiro é sempre um
sacrifício, uma entrega de nós mesmos, é misericordioso, compassivo,
compreensivo, amável, generoso e paciente. Estas e muitas outras qualidades
positivas e benignas (ver 1 Co. 13:4-8) são as que as Sagradas Escrituras
associam ao amor divino.
Mas reparemos no lado negativo, também visto no
contexto de Efésios 5. Aquele que ama os outros verdadeiramente, como Cristo
nos ama, deve recusar todo o tipo de amor falso. O apóstolo Paulo nomeia
algumas destas falsidades satânicas. Elas incluem a imoralidade, a impureza e a
ganância. A passagem continua: "Nem torpezas, nem parvoíces, nem
chocarrices, que não convêm; mas antes, ações de graças. Porque bem sabeis isto:
que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no
reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por
estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não
sejais seus companheiros." (Ef 5:4–7).
A imoralidade é, talvez, o substituto favorito do
amor na nossa atual geração. O apóstolo Paulo usa o termo grego porneia,
o qual significa todo o tipo de pecado sexual. A cultura popular tenta
desesperadamente desvanecer a linha que separa o amor verdadeiro da paixão
imoral. Mas tal imoralidade é uma perversão total do amor verdadeiro, porque
procura a autogratificação em vez do bem aos outros. A impureza é outra
perversão diabólica do amor. O apóstolo Paulo emprega aqui o termo akatharsia,
o qual se refere a todo o tipo de imoralidade sexual e impureza.
Especificamente, ele refere-se à sujidade, à impureza e à ganância, que são as
características particulares do companheirismo com mal. Este tipo de
companheirismo não tem nada a ver com o amor verdadeiro, e o apóstolo afirma
claramente que não tem lugar para ele no caminho do cristão.
A ganância é outra corrupção do amor que tem
origem no desejo narcisista de autogratificação. É exatamente o oposto do
exemplo que Cristo deu quando "se entregou por nós" (v. 2). No verso
5, o apóstolo Paulo compara a ganância à idolatria. Também isto não tem lugar
no caminho do cristão e, de acordo com o verso 5, a pessoa culpada de tal
pecado "não tem herança no Reino de Cristo e de Deus."
E tais pecados, diz o apóstolo Paulo, "nem
ainda se nomeie entre vós, como convém a santos." (v. 3). "Portanto,
não sejais seus companheiros", ou seja, daqueles que praticam tais coisas,
diz-nos o verso 7.
Em outras palavras, não demonstraremos amor
verdadeiro a não ser que sejamos intolerantes com todas as perversões populares
do amor.
Hoje em dia, a maioria das conversas sobre o amor
ignora este princípio. "O amor" foi redefinido como uma ampla
tolerância que ignora o pecado e que abraça o bem e o mal de igual forma. Mas
isso não é amor, é apatia.
O amor de Deus não tem nada a ver com isso.
Lembra-te que a mais suprema manifestação do amor de Deus é a Cruz, sinal que
Cristo "vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício
a Deus, em cheiro suave." (V. 2). A Sagrada Escritura explica o amor de
Deus em termos de sacrifício, de arrependimento pelos pecados cometidos e de
reconciliação: "Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus,
mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos
pecados." (1 João 4:10). Em outras palavras, Cristo converteu-se em
sacrifício para desviar a ira de um Deus ofendido. Longe de perdoar os nossos
pecados com uma tolerância benigna, Deus deu o seu Filho como uma oferta pelo
pecado para satisfazer a sua própria ira e justiça na salvação dos pecadores.
Este é o coração do Evangelho. Deus manifesta o seu amor de uma forma que
confirma a sua santidade, justiça e misericórdia sem compromisso. O amor
verdadeiro "não folga com a injustiça, mas folga com a verdade." (1
Co. 13:6). Este é o tipo de amor, no qual fomos chamados para caminhar. É um
amor que primeiro é puro e depois, harmonioso.
Fonte original: The Gospel Coalition