Por: Carlos Sider
Imagine o que aconteceria se o apóstolo Paulo considerasse que parte –
apenas parte – de seu “sucesso” ministerial fosse devido a sua oratória. Já
pensou nos conselhos que daria a Timóteo e Tito, recomendando-lhes que
desenvolvessem “uma boa lábia”?
Imagine os resultados se Pedro comentasse com seus companheiros que,
modéstia à parte, sua pregação no dia de Pentecostes “foi mesmo um marco na
história do evangelismo”. Daria para imaginar Pedro negando-se a seguir
para Antioquia por conta de sua agenda atarefada pelos muitos convites que
teria de atender como evangelista?
Imagine o que seria se Davi se vangloriasse de sua performance como
músico e poeta. Passaria pela sua cabeça Daví pedindo sua harpa para curar seu
primeiro filho com Bathseba, e dizendo que sua música era “tiro-e-queda”, e já
que havia sido capaz de acalmar Saul sua música curaria também seu filho?
É verdade que eles foram homens como nós, sujeitos às mesmas paixões e
tentações. É até razoável imaginar que eles devem mesmo ter tido seus momentos
em que “se acharam” mais do que eram. Não pensar assim leva-nos a tê-los
como super-homens, e isso não nos ajuda em nada. Eles foram gente de carne e
osso como eu e você.
Mas tenho para mim que eles se resolveram bem. Eles, cada qual a seu
modo, foram trabalhados por Deus, seja por espinhos na carne, seja por galos
cantando, seja por filhos rebeldes. Se alguma vez tentaram chamar para si o
comando foram confrontados pelo dono da obra.
Agora eu o convido a dar uma volta pelos nossos dias. A cada região para
onde sigamos, rapidamente saberemos quem é o pastor da moda, qual é a igreja da
moda, e qual é o grupo musical que “é massa”, que arrasta uma pequena multidão
por onde vá se apresentar.
E entenda-se: pastor bom é pastor que prega bem, não aquele que cuida de almas; igreja da moda é igreja grande, com uma programação bem legal, não uma igreja que necessariamente viva Cristo; e o tal grupo musical é um bom “contratipo gospel” das bandas que tocam nas rádios, pouco importando a vida que tenham.
E entenda-se: pastor bom é pastor que prega bem, não aquele que cuida de almas; igreja da moda é igreja grande, com uma programação bem legal, não uma igreja que necessariamente viva Cristo; e o tal grupo musical é um bom “contratipo gospel” das bandas que tocam nas rádios, pouco importando a vida que tenham.
São ministérios? Sim, são. Sérios? Podem ser, dependendo da seriedade
dos ministros. Mas são ministérios que estão sob os holofotes.
Ah... e onde estão os ministérios de visitação aos doentes, os de oração,
os de serviço, os de cuidado pastoral? Estão onde sempre estiveram – no coração
de seus ministros e, via-de-regra, longe da vista do público, longe dos
holofotes.
Mas qual deles está mais perto do coração de Deus?
Eu já aprendí - creia-me, a duras penas - que Deus não tem ministérios
preferenciais. São todos necessários e Ele os distribui como quer, a quem quer,
da forma e na hora em que deseja. E também aprendí – a ainda mais duras penas –
que Deus não está “nem aí” para os ministérios, mas está “todo aqui” para com o
coração do ministro.
Deus se relaciona conosco, não com nossos ministérios, afinal, convenhamos, Ele nem precisaria de nós para fazer o que deseja. Se nos usa é porque investe em nós, seus filhos, sua família.
Deus se relaciona conosco, não com nossos ministérios, afinal, convenhamos, Ele nem precisaria de nós para fazer o que deseja. Se nos usa é porque investe em nós, seus filhos, sua família.
E quando falo das “duras penas” é porque justamente meu ministério
sempre foi um desses que chamo de “ministérios de palco”. Desde que me conheço
por gente estou envolvido com música, com letras de música, com o uso da
palavra, seja escrita, falada ou cantada. É assim que Deus me usa para falar
das Suas coisas.
Costumo dizer que os “ministérios de palco” trazem a quem com eles se
envolve um desafio sempre presente, grande e constante: o de separar o
ministério do palco, embora ele aconteça justamente lá, no palco.
É de um palco que o pastor prega, é de um palco que alguém canta e toca.
E vale lembrar que o palco não é nada. O que o faz maior ou melhor não é seu
tamanho, sua altura, sua acústica ou a qualidade do microfone que lhe dão.
Pouco importa se é um palco de verdade ou um Cd gravado, um espaço na internet, um livro publicado, ou algum outro tipo de “palanque”. O que lhe dá importância e peso é a arena – o público que se reúne em torno dele.
Pouco importa se é um palco de verdade ou um Cd gravado, um espaço na internet, um livro publicado, ou algum outro tipo de “palanque”. O que lhe dá importância e peso é a arena – o público que se reúne em torno dele.
Alguma igreja tem batalhões de jovens querendo se envolver no ministério
de oração? Dúzias de pessoas dispostas a visitar doentes no hospital? Dezenas
de pessoas dispostas a fazer parte da escala de serviço, que inclui varrer
chão, lavar louça, fazer café, carregar cadeiras? Gostaria de conhecer uma...
Mas sou capaz de adivinhar que sua igreja tem um verdadeiro batalhão de
pessoas querendo se envolver no ministério de louvor (leia-se, querendo tocar
ou cantar em uma das bandas). Acertei? É mesmo?
Palco. Arena. Público. Estar em evidência. Ser admirado. Dar um show.
Mostrar capacidade.
Quem não quer?
Deus não quer!
Ele quer que o coração de quem está no palco seja o mesmo coração de
quem chega duas horas antes de todos para sozinho arrumar as cadeiras. Quer o
mesmo coração de quem abraça um mendigo para lhe transmitir carinho da parte de
Deus.
Este é o desafio. Estar no palco como quem faz uma visita solitária no
hospital. Onde, por vezes, só Deus é testemunha. Pois Deus é o único público
que realmente importa agradar. Estar no palco como quem está lá com o salão
vazio, sem arena humana, mas com a presença do “público de Um”. Com o devido e
desejado endosso divino.
Quem canta bem ouve elogios do público? Ouve. Quem prega ouve
comentários positivos das pessoas de como sua mensagem foi eficaz? Ouve. Quem
toca e canta bem é chamado para gravar um CD? É, mais cedo ou mais tarde. Estes
são os frutos do palco. São bons. São deliciosos! Mas duram pouco, muito pouco.
E costumam não vir quando você os procura (e Deus sempre tem algo a ver com
isso).
Entretanto, quem toca e canta bem, quem prega bem, estando no palco mas
com o coração aos pés da cruz, ouve elogios de Deus. Segue ouvindo elogios e
comentários do público, é certo, mas aprende a devolvê-los a Quem pertencem de
direito: a Deus – o dono da obra.
E Ele administra os frutos do ministério, dando-nos a conhecer, de vez em quando, algo do que anda fazendo através de nós. É bom, é delicioso, muito mais do que os frutos do palco. Os frutos do ministério são eternos.
E Ele administra os frutos do ministério, dando-nos a conhecer, de vez em quando, algo do que anda fazendo através de nós. É bom, é delicioso, muito mais do que os frutos do palco. Os frutos do ministério são eternos.
E você me pergunta se aprendi a fazer isso? Se na teoria sim, na prática
sigo tentando, praticando. É duro. É difícil. Creio que não é algo como um
obstáculo que se vence e jamais o vemos. Creio que é vencer o de hoje, pois os
de amanhã estão logo à frente, passada aquela curva... basta um pouco de
distração e...
Quem ama o palco e lhe dá o nome de ministério está brincando com fogo.
Na melhor das hipóteses o fará por suas próprias forças. E cedo ou tarde
experimentará o peso da mão do dono dos ministérios.
Mas quem de fato ama a Deus e dEle recebe um ministério, seja ele de
palco ou dos bastidores (pois pouco importa), segue na maravilhosa e eterna
estrada onde caminha quem agrada a Deus e é usado por Ele.
Carlos Sider
Tem desenvolvido seu ministério há 30 anos na área de música cristã, seja em composição, gravações, palestras e cursos.
Tem desenvolvido seu ministério há 30 anos na área de música cristã, seja em composição, gravações, palestras e cursos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário