1. Uma exortação
Deixem-me energicamente persuadir todos aqueles que carregam o nome de cristãos a se tornarem amantes de Deus. “Amai o SENHOR, vós todos os seus santos”
(Sl 31.23). São poucos os que amam a Deus: muitos Lhe dão beijos
hipócritas, mas poucos de fato O amam. Amar a Deus não é tão fácil
quanto pensa a maioria. O sentimento do amor é natural, mas a graça do
amor não o é. Os homens são, por natureza, odiadores de Deus (Rm 1.30).
Os ímpios fogem de Deus; eles não se submetem às Suas ordenanças,
tampouco se põem sob Seu alcance. Eles têm medo de Deus, mas não O amam.
Toda a força que há nos homens ou nos anjos não é capaz de fazer o
coração amar a Deus. Ordenanças não podem fazê-lo por si mesmas,
tampouco a ameaça de condenação; é apenas a força todo-poderosa e
invencível do Espírito Santo que pode infundir o amor dentro de uma
alma. Sendo esse um trabalho tão difícil, somos chamados a empregar a
mais fervorosa oração e a nos empenharmos em buscar essa bela graça do
amor. A fim de excitar e inflamar os nossos desejos por ela, eu hei de
prescrever vinte motivos para amar a Deus.
(1) Sem amor, toda a
nossa religião é vã. Deus não atenta para o dever, mas para o amor ao
dever. A questão não é o quanto nós fazemos, mas o quanto nós amamos. Se
um servo não faz o seu trabalho voluntariamente, e cheio de amor, sua
obra não é aceitável. Deveres executados sem amor são tão insuportáveis
para Deus quanto são para nós. Assim, Davi aconselhou o seu filho
Salomão a servir a Deus com uma alma voluntária (1Cr 28.9). Cumprir um
dever sem amor não é um sacrifício, mas uma penitência.
(2) O amor é a mais
nobre e excelente graça. É uma chama pura acendida dos céus; por meio
dela nós nos refletimos a imagem de Deus, que é amor. Crer e obedecer
não nos torna semelhantes a Deus, mas pelo amor nós crescemos em
semelhança a Ele (1Jo 4.16). O amor é a graça que mais se deleita em
Deus, e é a graça na qual Deus mais se deleita. Aquele discípulo que
estava mais cheio de amor foi o que pôde inclinar-se em seu peito. O
amor põe um frescor e um brilho em todas as graças: as graças parecem
ficar apagadas, a menos que o amor brilhe e lampeje nelas. A fé não é
verdadeira, a menos que atue pelo amor. As águas do arrependimento não
são puras, a menos que fluam das fontes do amor. O amor é o incenso que
torna todos os nossos serviços agradáveis e aceitáveis a Deus.
(3) Acaso é
desarrazoado o que Deus requer de nós? Não é outra coisa, senão o nosso
amor. Se Ele pedisse nossas propriedades, ou o fruto de nossos corpos,
poderíamos negar-Lhe? Mas Ele pede apenas o nosso amor: essa é a única
flor que Ele há de colher. Acaso é esse um pedido difícil? Houve em
alguma época uma dívida tão facilmente pagável quanto essa? Nós de
maneira alguma empobrecemos ao pagá-la. O amor não é um fardo. Acaso é
algum trabalho para a noiva amar o seu esposo? O amor é um deleite.
(4) Deus é o mais
adequado e perfeito objeto de nosso amor. Todas as excelências que se
mostram dispersas nas criaturas estão unidas Nele. Ele é sabedoria,
beleza, amor, sim, a própria essência da bondade. Não há nada em Deus
que possa causar repugnação; a criatura facilmente provoca náusea, ao
invés de satisfação, mas em há infinitas e renovadas belezas cintilando
em Deus. Quanto mais nós desfrutamos de Deus, mais somos arrebatados
pelo deleite.
Não há nada em Deus
que amorteça as nossas afeições ou apague o nosso amor; nenhuma
debilidade, nenhuma deformidade que possa enfraquecer ou esfriar o amor.
Em Deus há tal excelência capaz não apenas de pedir, mas de ordenar o
nosso amor. Se houvesse ainda mais anjos no céu do que há, e todos
aqueles gloriosos serafins tivessem uma imensa chama de amor queimando
em seus peitos por toda a eternidade, ainda assim eles não seriam
capazes de amar a Deus em equivalência àquela perfeição infinita e
bondade transcendente que há Nele. Certamente, então, aqui há o bastante
para nos induzir a amarmos a Deus – nós não poderíamos despender o
nosso amor em um objeto mais excelente.
(5) O amor facilita a
religião. Ele lubrifica as engrenagens das afeições, tornando-as mais
vigorosas e alegres no serviço de Deus. O amor lança fora o tédio do
dever. Jacó considerou como nada os sete anos que trabalhou, em razão do
amor que tinha por Raquel. O amor transforma o dever em prazer. Por que
os anjos são tão dispostos e velozes no serviço a Deus? É porque eles O
amam. O amor jamais se cansa. Aquele que ama a Deus jamais se cansa de
dizê-lo. Aquele que ama a Deus jamais se cansa de servi-Lo.
Por Thomas Watson. Original: A Divine Cordial By Thomas Watson
Tradução: voltemosaoevangelho.com
Permissões: Você está
autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em
qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério e o
tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins
comerciais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário